SINSP/RN avalia os 100 dias do Governo Robinson

"O que o Governo deve fazer é ter menos discurso e mais ação para encarar os problemas do Estado"

Militante dos movimentos sindicais e populares em defesa dos interesses da classe trabalhadora, a cearense da gema e autodenominada 'caicoense de coração, Janeayre Souto tem uma longa trajetória de luta como dirigente sindical. Nesta entrevista a Revista do RN, a atual presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público da Administração Direta do Rio Grande do Norte - SINSP/RN.

Qual a situação dos servidores públicos estaduais do RN?
A Luta coletiva da categoria pela ampliação das conquistas e direitos começou enviando um recado alto e claro ao Governo Robinson Faria: “não vamos pagar a conta pela crise”. Os servidores da administração direta do RN foram unânimes em suas declarações e encaminhamentos de luta que não vão ser penalizados com arrocho salarial e a falta de benefícios enquanto assistem os salários do policial civil, médicos, procuradores, professores, auditores fiscais, policiais militares, desembargadores, conselheiros do TCE, ministério público, além do governador, vice-governador e seus secretários terem reajustes em seus salários. A situação torna-se ainda mais cruel e discriminadora com a inexistência de uma política salarial que beneficie a categoria.

Quais as principais reivindicações? Como está a Campanha Salarial?
Desde a entrega da pauta de reivindicações no dia 17/03, o SINSP/RN tem negociado com o Governo do Estado  as demandas da categoria, bem como buscado a articulação para que a Assembleia Legislativa cumpra seu papel de intermediar e encontrar entendimento no processo negocial. Entre os 20 pontos encaminhados estão: a realização imediata de concurso público para a área geral do Estado, em todos os níveis; a reposição salarial da ordem de 32,31% que traduz a inflação do período de 1º julho de 2010 até 31 de dezembro de 2014; a implantação da Lei Complementar 432/10, que trata do Plano de Cargos, Carreira e Remuneração (PCCR) e a implantação do Vale-Cultura para a categoria.

A direção do SINSP/RN esteve em duas ocasiões (11/02 e 16/06) reunido-se com a representação do Governo do Estado. Nestes últimos quatro meses, o debate tem avançado com a Casa Civil e a Secretaria de Planejamento – Seplan e a Controladoria Geral para o atendimento das principais reivindicações dos servidores da administração direta do RN. Os trabalhos para regulamentar os ajustes da Lei 432/10 que trata do Plano de Carreira e pela implantação da Data-Base  da categoria está em andamento. O Sindicato foi o primeiro entre as entidades sindicais a ser contemplado com uma reunião com o secretariado do novo Governo Estadual.

                Para a direção do SINSP/RN as audiências foram propositivas e positivas onde o Governo do Estado deu continuidade ao diálogo com a categoria. O Sindicato tem discordância sobre a forma com a administração estadual tem conduzido a discussão quando trata do limite prudencial e da forma discriminatória de como algumas categorias estão sendo renumeradas e outras não, porém não se pode deixar de reconhecer que, diante da LRF e da leitura dos números do último quadrimestre, os servidores conseguiram avançar com as conquistas que levam implantação do Plano de Carreira e pela implantação da Data-Base, direitos esses tão sonhados e esperados por mais de 16 mil funcionários públicos.

O que os trabalhadores estão achando do projeto do governo de Plano de Previdência para os servidores públicos integrantes do quadro efetivo de pessoal do Estado do Rio Grande do Norte?
O Governo Estado se confunde com aquela máxima de que “tudo que é bom se copia” e coloca o futuro dos funcionários públicos em situação de desconforto. É que o governador Robinson Faria, enviou ao legislativo estadual, Projeto de Lei que institui o Regime de Previdência Complementar [RPC] para o funcionalismo.

                Se aprovado o servidor que ganhar acima do teto do Regime Geral de Previdência – hoje de R$ 4.6 mil – terá que contribuir com um fundo complementar estadual para receber o valor integral do salário após a inatividade. A contribuição do governo sobre as aposentadorias, por sua vez, poderá cair de 22% para 8%.

                As entidades do Fórum Estadual dos Servidores vão se posicionar pela retirada do Projeto da Assembleia uma vez que não beneficia os servidores estaduais.  Os sindicatos afirmam que mais uma vez os não foram os servidores foram consultados sobre qualquer alteração na gestão de seus recursos previdenciários.

                Para administrar e executar o plano de benefícios de caráter previdenciário complementar, o projeto prevê a criação da Fundação de Previdência Complementar do Estado do Rio Grande do Norte (Fuprevi/RN), sem fins lucrativos. A gestão dos recursos será realizada por instituição financeira credenciada pelo Banco Central, contratada mediante licitação.

                Não adianta misturar, a aposentadoria complementar é opcional e só vai servir para quem se aposentar daqui para frente e mesmo assim por adesão. A aposentadoria complementar vai servir para gerar lucro aos fundos financeiros e o capital. O fundo previdenciário tem as mesmas características da aposentaria complementar, ou seja, rendimento e fiscalização. Além do mais não resolve a situação dos atuais aposentados e pensionistas.

                Regime semelhante já foi adotado em estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Ceará, Pernambuco e Rondônia, e está em discussão em outros, como Paraná, Goiás, Bahia e Santa Catarina com resistência heroica dos servidores estaduais. No mais recente embate dos trabalhadores, Curitiba/PR virou praça de guerra, batalha campal, cenário de terror onde confrontos entre manifestantes e policiais terminou com um saldo de 213 feridos.


                No Rio Grande do Norte, o Tribunal de Contas do Estado, Assembleia Legislativa, Ministério Público Estadual, Ministério da Previdência investigam o processo de fusão dos fundos previdenciários e suas consequências para os servidores graças as denuncias formuladas pelas entidades que compõem o Fórum Estadual dos Servidores. Os trabalhos questionam a legalidade da unificação dos fundos previdenciários e financeiros e cobram a recomposição dos quase R$ 600 milhões do FUNFIRN que foram usados desde dezembro de 2014 pelo governo para pagamento de pessoal.

                Para se ter uma ideia do rombo financeiro, apenas no mês de abril, o Governo Robinson sacou R$ 82.640.280,51 do FUNFIRN.  Ele declarou que este seria a última retirada de recursos do Fundo Previdenciário.

                Os servidores aposentados ou ativos, bem como os dependentes devem acompanhar a tramitação do Projeto e cobrar dos deputados estaduais a garantia das aposentadorias através do fundo previdenciário que pode responder positiva a expectativas dos servidores do estado.

Seis meses de governo. Houve alguma mudança? Qual a avaliação que o sindicato faz?
                Houve ainda poucas mudanças no que se refere ao tratamento que os servidores públicos tanto merecem e tem direito. O Governo do Estado abriu espaço para diálogo, mas apenas para dizer que não atende diante da alegada grave crise financeira.  Promete rever a situação das categorias caso a situação econômica melhore, mas as demandas dos servidores são para ontem. Medidas emergenciais devem ser tomadas não só para estancar a greve perda de poder aquisitivo do funcionalismo público, mas também para melhorar as condições de trabalho. Para se ter uma ideia da situação, o governo do estado precisa realizar urgentemente concurso público, pois 85% dos servidores vão estar aposentados em 2017.

                Muitas categorias têm conquistado avanços nos direitos dos servidores, mas pela via judicial. Em agosto de 2014, através de uma Ação Coletiva, todos os servidores da administração direta do estado, passaram a receber a integralidade do PCCR. Essa Ação Coletiva é originaria do SINAI e que tem como advogado Manoel Batista Dantas Neto. O Sindicato protocolou no dia 15/06 os cálculos junto ao TJ/RN - Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte para pagamento do Mandado de Segurança na Ação Coletiva que trata do pagamento da Lei Complementar 432/2010.

                O que o Governo deve fazer é ter menos discurso e mais ação para encarar os problemas do Estado, tais como: melhoria da arrecadação com o combate a sonegação e incentivo a fiscalização; melhoria na qualidade dos investimentos na saúde, segurança e educação; acabar com as graves distorções na folha de pagamento que oneram o erário público, entre tantos outros.

Quais os próximos passos do SINSP/RN?
A luta dos servidores da administração direta do RN chega a momentos decisivos em muitas frentes de luta. Seja na esfera da negociação direta com o governo do estado ou pela via judicial temos avançado nos principais pontos de luta de nossa categoria: implementação do PCCR e implantação da Data Base.

                Não tem sido fácil de obter estes resultados. Infelizmente, o entendimento com o Governo Estadual sobre como atender a pauta não vem de acordo com a ansiedade dos servidores. Será preciso ainda paciência e muita persistência da categoria.

                Na luta jurídica, protocolamos os cálculos da ação em 1º e 2º graus dos atrasados PCCR. Este foi um passo decisivo para que mais de 16 mil servidores assegurem seus diretos.

                Como a união faz a força, temos nos articulado com o Fórum Estadual dos Servidores pela Campanha Salarial Unificada com diversas categorias e pela defesa da previdência dos servidores contra os ataques do Governo Estadual. Estamos também integrados a luta nacional da classe trabalhadora contra o PL 4330 da terceirização sem limites.

                A articulação sindical tem ampliado os apoios dos deputados estaduais na Assembleia Legislativa e da Senadora Fátima Bezerra apoio para a nossa luta. Pela implantação do vale-cultura, o SINSP/RN tem ainda mobilizado a categoria com a realização de eventos culturais, tais como o CarnaSinsp e o Arraiá do SINSP.


                Isso sem falar nas cobranças mensais pelo pagamento dos salários dos servidores, GME, condições de trabalho para a categoria... Em fim, são muitas frentes de batalha, porém com a luta determinada, transparente e responsável, o SINSP/RN e a servidores serão novamente vitoriosos.




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